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Foto do escritorEduardo De Oliveira

Cactuar - Pt.1

Atualizado: 10 de mai. de 2019



Ele acordou as 6:40h com o seu despertador como de costume, se levantou porem não arrumou a sua cama, pois ele sabia que não fazia sentido algum arruma-la naquela manhã.

Foi até o banheiro, para vomitar a angustia e ansiedade da noite passada. E na cozinha buscou um pouco de café de ontem para poder tirar o gosto amargo do desprezo.


Sentou-se ao sofá e mesmo sabendo que nada teria de novidade, abriu a tela de seu celular. E sim, o silencio, o vazio e nenhuma notificação sequer.

Então como já no automatizado, fez a sua prece diária. Escovar os dentes, vestir o uniforme,, prender as cachorras e a gata, ,tirar a moto da sua garagem e seguir para o trabalho.

Colocou os fones nos ouvidos, escolheu meticulosamente uma música (Maybe Tomorrow), ligou a sua moto já tão surrada quanto o seu dono e partiu ruas a dentro.

Em sua moto, com sua música, por mais que tenha o trânsito intenso da manhã, é só ele nas ruas. Pilotando como louco, descarregando um pouco de sua raiva, de sua ira e de seu ódio. Não se importando com as consequências de uma colisão, pois sabe que por mais fatal que possa ser uma porrada física, ele já está morto por dentro. Seria apenas menos um jarro vazio em alguma prateleira empoeirada.


No meio da correria do seu trabalho, a única coisa em que pensa é em voltar para a casa. A casa, apenas uma casa, não mais um lar.

Entre ruas, avenidas, estradas e becos, ele não sente mais fome, sede ou qualquer outra necessidade fisiológica. Sente frio, febre, dor no corpo por noites mal dormidas. Sente dores de cabeça devido ao uso constante de álcool e drogas para esquecer e fugir da realidade que o rodeia. Sente pontadas no peito por crises de ansiedade, pelo vazio, pelo choro preso. Tosse constantemente como um gato querendo cuspir uma bola de pelos. Cigarro, pigarro um espectro.


Finalmente ele chega em casa, tudo que ele quer é tirar sua bota, tomar mais um gole daquele café de ontem e responder as notificações em seu celular. Tudo acima é verdade, exceto pelas notificações, onde a única que ainda está por lá, é de seu velho amigo pedindo para ainda ficar nesse mundo.

Então essa noite ele resolve fazer diferente, resolve mudar as coisas. Colocar os pingos nos is e tentar ser uma pessoa melhor, ver as coisas melhores... Mas calma aí!! Isso já foi feito antes, por vontade própria ou por pedido de outras pessoas. E sim, nada acontece de diferente. Nada teve valor, e ainda sim é um menino mal.

Sofá, televisão, cocaína, cigarros, café e álcool, quase uma oração isso, se não fosse por a cada noite ao invés de se livrar da realidade, passou a ver fantasmas pela casa.

Cochilar e acordar assustado, olhar para a porta e pensar "hora de ir para a cama e me juntar a fulana". Ele sente os cheiros dos dias passados em sua loucura em busca da outra realidade.


Ele se levanta do sofá, toma um banho e faz a barba. Vai até a cozinha e prepara um prato que gosta, se senta ao sofá e saboreia a refeição, refeição que deve ter sido a única na ultima semana.

Daí volta até a cozinha e coloca uma água para ferver, pois ele quer um café fresco, não aquele café de ontem, já sem brilho, sem teor e sem o cheiro único que o café fresco tem. Ele vai até seu guarda roupas e escolhe a sua melhor camisa, veste sua calça e seu boot. Volta até a cozinha e passa o café, pega sua caneca e se senta no sofá. Acende o seu cigarro e deixa os pensamentos livres com a fumaça dele. Pega o seu celular mais uma vez e nada de notificações novamente.

Ele se levanta, vai até o escritório, dá uma olhada em umas fotos que hoje já não ficam em sua estante. Se senta junto a escrivaninha e escreve três cartas que deixa devidamente arrumadas na mesa. Arruma mais algumas outras coisas e se levanta para cuidar de suas três cadelas e sua gata.

Comida, água troca, um pouco de afago nelas e ele com os olhos vermelhos, querendo dizer algo mais a elas, porem é bom que realmente elas não entendam e não saibam.


Jaqueta, chave, dinheiro solto e uma pequena caixa. E assim ele sai de sua casa, deixando para trás sua moto, celular, um antigo lar e todo o peso que foi estar por meses só. E assim ele diz um adeus de todas as dores e sentimentos ruins que ele se deixou levar para a sua auto destruição.

Eu não perguntei a ele onde ele iria, ninguém na verdade perguntou. E mesmo se ele falasse, ,ele saberia que ninguém iria segui-lo.

Ele não era um vaso vazio em uma prateleira empoeirada, era só um cacto no deserto esperando um dia matar a sede de alguém mais perdido do que ele.

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