Capítulo I – Cavaleiros e Ciganos
Noite fria e chuvosa na Floresta Negra de Limbdum.
Minhas mãos ainda tremem pelo calor da batalha, a raiva e a adrenalina correm pelo meu corpo, e minha espada repousa cravada no peito do meu ultimo adversário.
A batalha foi vencida, nossos homens agora celebram pela vitória, mais há uns minutos atrás tudo era dor, sangue e morte. A chuva ajuda a limpar o sangue de minha lamina, mais também lava e espalha o sangue dos corpos por toda a floresta.
Agora eu só penso em retornar a capital e poder rever a linda filha do rei. É ela que me mantêm vivo nessa guerra, e é ela em quem eu penso a cada golpe de espada que eu aplico no inimigo. Eu não vejo a hora de pedir a sua mão em casamento.
Faltam apenas alguns dias de viagem, para os nossos cavaleiros cruzarem os portões do castelo de Limbdum, mas são dias que parecem não ter fim.
No dia seguinte, as tropas já estavam prontas para partir. E então seguimos a velha estrada que corta toda a Limbdum, em meio a lama, ao corpos e o cheiro fétido de carne podre.
Naquela mesma noite, nós encontramos um acampamento de ciganos.. Ciganos que cordialmente nos ofereceram uma fogueira, comida e um local para repousarmos. Fazia tempo que nossos homens não se divertiam, então, ordenei que eles bebessem e se divertissem à vontade. Já era hora de comemorar as nossas vitórias em campo e comemorar também o nosso regresso, já que está vivo era a vitória mais importante.
Em meio a fogueira, rum e musica flamenca, uma cigana me chamava muita atenção. Ela era jovem e bela, com uns olhos verdes que quase brilhavam no escuro. Ficamos meio que numa troca de olhares, até que ela veio até mim e me pediu para ler a minha mão. Eu não acreditava naquilo, mais deixei que ela lesse. Diz ela que me via rico e poderoso, e que eu seria um homem muito visado, e aclamada, como um rei. Daquele momento eu comecei a prestar mais atenção em suas palavras. Eu então perguntei se em casaria com a filha do rei. No mesmo momento a face da cigana mudou, e em sua expressão eu li a resposta. Puxei a minha mão e disse que não queria mais saber de nada. Então saí e dei as costas para a cigana e me sentei um pouco mais afastado da fogueira. Dei um gole no rum e me deitei na grama. O céu estava totalmente limpo, sem nenhuma nuvem, só as estrelas. Coisa muito rara de acontecer, ainda mais naquela época do ano, o que me fez ainda mais querendo ficar ali contemplando o céu. As palavras da cigana ficaram ecoando na minha cabeça, mas logo distraí esse eco com outro pensamento, a princesa.
Alguns minutos depois, a mesma cigana se aproximou e deitou ao meu lado. Não falou uma palavra, apenas começou a me acariciar. Naquele momento eu já não me controlava, a bebida já estava fazendo efeito. Devido à bebida ou a outra coisa qualquer, eu comecei a ver nela o rosto da princesa. Então começamos ali mesmo a tirar nossas roupas e a fazer amor. Parecia tudo tão mágico, tudo tão maravilhoso, e como mágica eu abracei Morfeu.
No dia seguinte, eu acordei meio perdido e sem entender realmente o que tinha ou estava acontecendo, procurei a princesa ao meu lado, e não havia princesa e nem havia nada. Levantei e olhei em volta, e em volta apenas vi os meus homens e nossa caravana. Os ciganos sumiram como se nunca estiveram ali, e isso não foi só eu que percebi, todos os homens da tropa estavam com o mesmo espanto. Confusos, falando nada com nada, e tentando um com o outro buscar lembranças daquela noite. Depois de algum tempo nós curamos a nossa loucura e seguimos em frente, sem entender nada e sem tentar acha explicação para o fato. Todos caminharam sem falar uma palavra.
Enfim chegamos a Capital, atravessamos os enormes portões e chegamos ao centro do castelo. Nas ruas em que nós passávamos todos corriam para nos prestigiar. Nós éramos aplaudidos e aclamados pelo povo, todos queriam ver os senhores da guerra. Pedi para que todos da tropa parassem e então ordenei de irem procurar as suas famílias, mais que em dentro de uma semana retornassem ao castelo para novas ordens. Seguindo para o castelo, eu queria logo encontra-la, ansiava por esse momento. Porém mais fui abordado por todos os demais Senhores do castelo, eles queriam que me preparassem para uma premiação formal na qual o rei iria me prestigiar por ter conduzido a vitória com nossas tropas. O rei daria uma festa com um jantar e por isso os Senhores do rei queriam que eu estivesse pronto devidamente "apresentável", pois dias após dias em campo de batalha nos deixaram com uma péssima aparência
As horas até o jantar foram angustiantes, mais enfim chegou e eu estou pronto para a cerimonia e para rever a Princesa.
Em encaminhei até o salão onde seria servido o jantar, e lá chegando, pude rever velhos companheiros de batalha e percebi que muitos outros não estavam aqui. Num momento pensei quando seria a vez deles, ou até mesmo a minha. Meus pensamentos foram cortados quando os servos anunciaram a entrada do Rei, no mesmo instante todas aquelas cornetas tocaram, e todos saudavam a nossa ilustre majestade. O rei desceu as escadas e pronunciou alguma coisa que eu não prestei muita atenção, pois eu só estava me perguntando onde estaria a nobre Princesa.
Teve toda aquela cerimônia, homenagens e aplausos. Mesas fartas, musicas e bebidas, mas daquilo alimentava o que eu tanto tinha fome. Como eu era um grande amigo do rei, me sentei próximo a ele. Depois de muita conversa, de muito contar cada vitória conquistada, enfim eu perguntei:
- Onde está a princesa, geralmente ela participa de todas as cerimônias?
Ele então me respondeu seriamente que, ela havia se casado com o príncipe de Liordia já há alguns meses. Naquele momento em diante eu só queria sumir, fiquei tão surpreso que nem sequer comentei nada a respeito. Mas em minha cabeça martelava frases, "Como assim casou?", "Como não fiquei sabendo?", "Isso é algum tipo de brincadeira sem graça?"
A cerimônia terminou, e enfim pude sair e voltar para casa. Em casa, eu cheguei e me sentei na varanda, o meu cão veio e se aconchegou nos meus pés e eu me aconcheguei no fumo de um cachimbo. A fumaça saia de minha boca e se perdia no céu estrelado. E eu fiquei ali sentado por horas, ficava pensando nas batalhas, na princesa, e até pensei nos ciganos, e especialmente naquela cigana. Então eu pensei nas suas palavras e disse a mim mesmo:
- Como serei rei, se a minha princesa se foi? Só se eu matasse o rei.
Por alguns instantes aquela frase, ”Matasse o rei”, não soou mal. Mais logo eu esqueci aquilo, era ser muito tolo a querer fazer algo nesse ponto.
Continua...
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